Conheça as opiniões e os pensamentos dos nossos entrevistados
Professor, fale um pouco sobre o projeto que o senhor realiza no Instituto Federal de Sergipe.
No momento, não estou em nenhum programa de bolsas envolvendo projeto de extensão ou de pesquisa do IFS. Os meus projetos são “independentes” e realizados exclusivamente em sala de aula. São atividades de pesquisa desenvolvidas pelos alunos mediante orientações sobre o conteúdo, tratando de temas com abordagem sociológica, que insiro no programa de aula. O objetivo desses projetos é estimular a percepção acerca de aspectos voltados para a participação política e para a cidadania. Uma outra pesquisa é a que utiliza o método de observação e experiência em relação a lugares e sociabilidades na cidade a partir das teorias de Walter Benjamin. Nesse ano, adotei, também, o Parlamento Jovem Brasileiro (PJB) para trabalhar com os alunos, por meio de orientações, para a construção de um projeto de lei. Esse programa é da Câmara dos Deputados e o campus Aracaju já enviou um representante em 2015: o estudante Lucas Goes, que era do 4º de Edificações.
Como funciona o programa ao qual o senhor e o seu projeto estão ligados?
Entretemas apresenta
uma entrevista com Alysson Cristian Rocha Souza, professor de Sociologia do
Instituto Federal de Sergipe, campus
Aracaju. Alysson ministra aulas em diversos cursos. No Ensino Médio Integrado,
trabalha com as turmas de Alimentos, Edificações, Eletrônica, Eletrotécnica e
Química. Também atua no PROEJA, nos cursos de
Hospedagem e de Desenho de Construção Civil. Já no nível superior, ele é docente nos
cursos de Engenharia Civil e de Tecnologia em Gestão de Turismo. Além da
Sociologia em vários níveis – I, II e
III – nosso entrevistado ministra também
Sociologia do Turismo e Humanidades e
Cidadania. Alysson Cristian é professor desde 2005 e está ligado à
Coordenadoria de Ciências Humanas e Sociais-CCHS do IFS. Em nossa conversa, o
professor fala sobre os seus projetos, sobre como é ser docente do Instituto
Federal de Sergipe e sobre a situação da educação no Brasil.
Entrevista realizada por Beatriz Ferreira – acadêmica do curso de Direito da Universidade Federal de Sergipe e aluna do curso de Edificações do IFS.
Professor, fale um pouco sobre o projeto que o senhor realiza no Instituto Federal de Sergipe.
No momento, não estou em nenhum programa de bolsas envolvendo projeto de extensão ou de pesquisa do IFS. Os meus projetos são “independentes” e realizados exclusivamente em sala de aula. São atividades de pesquisa desenvolvidas pelos alunos mediante orientações sobre o conteúdo, tratando de temas com abordagem sociológica, que insiro no programa de aula. O objetivo desses projetos é estimular a percepção acerca de aspectos voltados para a participação política e para a cidadania. Uma outra pesquisa é a que utiliza o método de observação e experiência em relação a lugares e sociabilidades na cidade a partir das teorias de Walter Benjamin. Nesse ano, adotei, também, o Parlamento Jovem Brasileiro (PJB) para trabalhar com os alunos, por meio de orientações, para a construção de um projeto de lei. Esse programa é da Câmara dos Deputados e o campus Aracaju já enviou um representante em 2015: o estudante Lucas Goes, que era do 4º de Edificações.
Como funciona o programa ao qual o senhor e o seu projeto estão ligados?
Os dois projetos que realizo em sala seguem os
métodos de aulas presenciais, pesquisas realizadas pelos alunos e orientações. Ao
final, organizamos uma apresentação conjunta e convidamos algumas turmas e
professores. Já o Parlamento Jovem possui critérios pré-estabelecidos e as
orientações são adequadas a partir da escolha do tema, pelo aluno, com o
desafio de elaborar um projeto de lei
original que aborde demandas nacionais e respeite a estrutura do texto
legislativo.
Quais são as maiores dificuldades
enfrentadas para a concretização do projeto?
A principal dificuldade é o curto tempo
disponibilizado para os alunos. O sistema de três anos deixa pouco espaço para eles
desenvolverem projetos que exijam maior tempo de pesquisa e de sistematização
de ideias.
Quais resultados o senhor já obteve ou
pretende obter com esses trabalhos?
Posso falar do que apresentamos no dia 18/04, na sala
1S. Foi um ciclo de temas sobre
participação política, cidadania e democracia. Foi uma manhã produtiva, com a participação
das turmas de Alimentos e de Eletrônica. Estiveram conosco as professoras Nadjma e Patrícia Rosalba. Para esse trabalho, o objetivo
foi pesquisar e compartilhar experiências de participação no Brasil – movimentos
sociais, mecanismos constitucionais e propostas para o IFS – Nesse mesmo dia,
participaram da atividade, falando sobre sindicatos e movimento estudantil, os
servidores William e Flávia.
Houve também o encontro do dia 19/05, abordando o
método e conteúdos de Walter Benjamin sobre a cidade, seus lugares e suas
sociabilidades. Foi realizada uma exposição. Esse trabalho exigiu uma produção
técnica e criativa. Para isso, os estudantes precisaram apresentar os
resultados de suas pesquisas por meio de gêneros como documentário, fotografia,
videoclipes e crônicas. O resultado é a
criatividade articulada com o conteúdo. A subjetividade do aluno precisa de
espaço, dessa forma podemos caminhar para um ensino com autonomia, com crítica, privilegiando a faceta criativa
dos estudantes. Tivemos muitos debates,
polêmicas e troca de conhecimento.
O PJB, por sua vez,
é uma experiência nova para mim. Vai demandar muita pesquisa e aproximação com
os alunos durante as orientações. Esse projeto estimula o espírito de cidadania
e proporciona o conhecimento sobre o funcionamento do Legislativo e seus
instrumentos. A gente precisa ir além da decepção com os políticos. Existe uma
estrutura, precisamos conhecer seu funcionamento e qual o papel do Legislativo
nisso.
Mudando
um pouco de assunto, fale-nos como é trabalhar no Instituto Federal de Sergipe?
Cheguei ao IFS em 2014, depois de quase dois anos
trabalhando no IFAL, no campus Palmeira dos Índios. Senti os impactos de não
ter sido recebido e muito menos apresentado aos setores e turmas, salvo a
solidariedade de alguns colegas. Outra coisa que me incomoda até hoje é a
burocracia que engessa a realização de trabalhos e a criação de um clima organizacional.
São poucas as atividades pedagógicas e lúdicas de integração. Há também o
descompromisso por parte de alguns professores e é pouca a articulação entre os
colegas docentes para trabalhos interdisciplinares. A impressão que ainda tenho
é a de que todos os departamentos são ilhas isoladas que não dialogam e não se
conectam. Existe também o problema do distanciamento da diretoria e da reitoria em
relação às demandas da comunidade. Inclua neste pacote, a falta de diálogo e a
imposição de regimentos sem a consulta dos interessados. Penso que temos
instrumentos e capacidade suficientes – estudantes, professores e técnicos – para construir normas que estejam próximas das
demandas reais ao invés das aberrações que nos empurram de cima para baixo. Somos
uma comunidade pequena, podemos ter uma participação direta. Daí eu te
pergunto: a quem o reitor representa e para quem ele aprova os regimentos se
ele não conhece o dia a dia da comunidade? Precisamos alimentar a participação.
É assim que a gente fortalece a cidadania e a democracia no IFS. No entanto, o
que vemos são decisões autoritárias e equivocadas que pouco contribuem para a
educação e terminam atrapalhando a qualidade do ensino. Exemplo disso foi a
redução de quatro para três anos no Ensino Médio Integrado. Não existe canal de
diálogo e nem preocupação para construir uma identidade do IFS/campus Aracaju.
O campus é dos estudantes, professores, técnicos, terceirizados, enfim, de quem
faz parte dele, de quem vive o seu dia a dia.
Na sua opinião, o que pode ser feito
para melhorar a situação educacional brasileira como um todo?
É uma pergunta difícil. São muitos os problemas: a falta
de estrutura de muitas escolas, a formação problemática dos professores, os altos
índices de evasão no Ensino Médio, a baixa remuneração dos docentes e a falta de entendimento sobre o verdadeiro
papel da escola. Além disso, a responsabilidade de municípios e de estados com os Ensinos Fundamental e Médio
varia de um lugar a outro. A flexibilização do Ensino Médio não será a solução
dos problemas históricos da educação brasileira. Existem demandas básicas, e
não adianta simplesmente mudar o Ensino Médio para haver um “Novo Ensino Médio”.
É necessária uma nova educação, em todas as modalidades. Como o Ensino Médio
vai funcionar se teremos um velho Ensino Fundamental?
Se fosse pensar em um passo a passo, o primeiro
seria mudar a forma de aprender. Precisaria haver um paralelo entre a mudança dos conteúdos e dos currículos e o treinamento
dos professores. Depois, seria necessária a implantação de um modelo de ensino
com aulas teóricas e práticas que estimulassem a autonomia e a crítica dos
alunos. Os professores seriam orientadores do processo de aprendizagem e os
alunos protagonistas. Claro que, para tudo isso, precisaria haver muitas melhorias
da estrutura das escolas e materiais didáticos , com o intuito de que o modelo
de currículo pudesse funcionar a contento.
O senhor acredita que a discussão
política na escola, reunida a ideias de
caráter mais efetivo, a exemplo do
Parlamento Jovem Brasileiro, pode ajudar na construção de um ambiente mais
democrático?
Acredito. O PJB traz desafios e o desafio provoca o
surgimento de novas ideias. Isso ocorre por meio da elaboração de um projeto de
lei em que se espera uma ideia original. É algo que estimula o pensamento crítico,
a busca de conhecimento; isso incentiva
a defesa da proposta, por parte dos jovens elaboradores, e a procura pelo entendimento
e compreensão das leis. São situações que podem ajudar ao jovem a se perceber como
cidadão e como ator transformador de uma realidade. Participar de projetos desse
tipo dá confiança ao aluno para a participação em outros projetos e, claro,
para tentar intervir na sociedade.